22 dezembro 2011

É TEMPO DE MUDANÇA

*Professor Eleomar Marques.
E-mail: eleomar_ms@hotmail.com
Nunca na história deste país o verbo mudar foi tão utilizado. Embora as mudanças ocorram naturalmente, pois fazem parte do ciclo da vida, uma criança cresce e muda para adolescente e depois torna-se adulto e com as mudanças os problemas da idade. Mas, nos últimos oito anos, as mudanças ocorreram com maior intensidade, sobretudo, no que tange á política partidária. Se começarmos pela nossa nação, tivemos a grata mudança de passarmos de devedor a credor do FMI (Fundo Monetário Internacional), grande mudança histórica. Assim também na área de energia, visto que mudamos de importadores para exportadores de petróleo, autossuficiência. Contudo, o preço do combustível mudou, e para cima. Quanto ás personagens políticas, as mudanças aparecem com mais vigor, a começar pelo então candidato a presidência da república, Luís Inácio Lula da Silva. Para vencer as eleições optou por uma mudança ortodoxa da sua própria imagem, passou a usar terno e gravata, algo distante de um simples operário. Porém, isso não representa muito diante dos fatos políticos. O próprio Lula realizou coligações com ex-adversários antes inimagináveis para vencer as eleições. Por exemplo, Sarney mudou de conduta para apoiar Lula, logo depois recebeu o apoio incondicional do já presidente Lula quando ocorreu a crise da presidência no senado. Na mesma direção, o torneiro mecânico teve que mudar de conduta para receber o apoio do antigo coronel baiano, Antonio Carlos Magalhães. Esses fatos não seriam tão relevantes se ambos os políticos anteriormente citados não fossem os antigos algozes de Lula durante a famigerada Ditadura Militar (1964-85), da qual o então sindicalista foi vítima. No decorrer do governo outras mudanças aconteceram, por exemplo, Frei Beto mudou, deixou a direção do Fome Zero por não concordar com o rumo que tomou tal programa, mas se Lula mudou, alguns fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores) também mudaram de lado, foi o caso de Heloisa Helena e Plínio Arruda Sampaio, em compensação, o presidente com uma postura totalmente mudada, recebeu o apoio do ilustre senador por Alagoas, Fernando Collor de Melo, aliás este, recebeu, do então deputado federal, Lula, o voto de impeachment quando estava na presidência (1992). O conterrâneo de Collor, Renan Calheiros, também não mediu esforços para mudar para o lado de Lula. Durante o governo Lula (2002-2010), dois personagens históricos no contexto da Ditadura Militar e também petistas, resolveram mudar de postura, os “Josés” Dirceu e Genoíno de moralistas, defensores de uma democracia limpa e salutar, mudaram, mudaram quando desviaram verbas pertencentes ao erário público, quem diria, que mudança! Hoje, o partido que se diz do trabalhador, dispersa manifestações dos próprios trabalhadores.
As mudanças foram tão profundas que atingiram até a natureza, o curso do rio São Francisco está sendo mudado pelo governo petista. Aliás, essa ideia era antiga, mas também defendida por FHC (Fernando Henrique Cardoso), mas a bancada petista não aprovou essa mudança. Também é de se esperar, o próprio Lula muda de opinião abruptamente, num certo discurso em Aracaju, assegurou aos sergipanos que não faria a transposição de águas do Velho Chico, mas, na mesma noite, em Natal, capital do Rio Grande Norte, afirmou o contrário.
Para mudarmos do cenário nacional para o estadual (Sergipe), basta lembrar que só desfilavam nas fileiras petista os partidários históricos, hoje temos uma pedetista assumindo a presidência da república como petista.
Em Sergipe, assim como no Brasil, as mudanças foram bastante perceptíveis. O cacique político sergipano, Albano Franco, mudou da direita para “esquerda” para apoiar o atual governador durante sua primeira eleição ao governo do estado. Contudo, o próprio Déda (governador de Sergipe), o trocou por Amorim, antigo aliado de João Alves Filho, o maior rival político do PT no estado. As mudanças não param, o atual senador Antônio Carlos Valadares, hoje fiel escudeiro de Marcelo Déda, outrora governador por Sergipe, autorizou a polícia militar a dispersar uma manifestação dos professores da rede estadual através de chute e pontapés. Seria “normal” se o atual governador não fosse uma das vítimas das agressões militares. Na atualidade, o governo tem na chapa Jackson Barreto como vice, pois, este foi vítima de um impeachment ao governo municipal de Aracaju com o aval do então deputado federal, Marcelo Déda.
Até as siglas partidárias já não têm significados coerente com sua antiga história, o partido dos trabalhadores tenta calar manifestações dos trabalhadores. O velho PC do B, que no passado defendia uma socialização, hoje se mostra bastante capitalista ao fazer pactos com grandes empresários em detrimento dos interesses trabalhistas na capital sergipana.
Olha, essa coisa de mudança é séria, até eu resolvi mudar, até os anos 90 do século XX, comungava com as ideias petistas, inclusive tive discussões calorosas com o meu pai que era contrário as ideias petistas, hoje papai mudou, é petista, eu mudei não para Direita, apenas para não ficar nas ideias de um partido que muda constantemente.
É verdade que muitas coisas também mudaram para melhor, é o caso da área social e outras que já frisei. Contudo, as mudanças políticas foram tão gritantes que ofuscaram as demais mudanças. Para historiadores e antropólogos as mudanças são naturais, até concordo, porém, nem eles esperavam que ocorressem de forma tão radical.
Aliás, as mudanças já até foram cantadas por vozes ilustres, quem não se lembra do maluco beleza quando cantava: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, ou o Zé Ramalho quando canta Bob Dylan: “...está tudo mudando”.
Sabemos que as mudanças acontecem, mas, as mudanças acima citadas não estariam mais para vulnerabilidade do que para própria mudança? Afinal, você gostaria de eleger um candidato e ser governado por outro, visto que ele admitiu algumas mudanças?
Bom, esqueçam de tantas mudanças, na próxima eu prometo, mudarei de assunto.
*Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe e acadêmico de Direito pela mesma universidade. Professor da rede estadual de ensino e da rede municipal de Porto da Folha/ SE.
Obs: Este artigo já foi divulgado no Jornal da Cidade, Correio de Sergipe, Blogs: Impressões, Primeira Mão e Porto da Folha Notícias.

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